O abraço do urso panda

Uma das características marcantes dos descendentes daqueles que ergueram a Grande Muralha – guarida dos espíritos das centenas de milhares de trabalhadores que perderam a vida durante sua construção – é sua capacidade para vislumbrar os acontecimentos futuros, notadamente no campo econômico onde exercem com desenvoltura suas predições apoiadas nas melhores mentes que militam suas universidades que, com habilidade fora do comum, integram os conhecimentos ocidentais com aqueles cunhados na sabedoria oriental.

Assim, conseguem dimensionar e caracterizar o Brasil das próximas décadas, ainda que isso não seja sempre claro para os próprios brasileiros, amarados a sua cultura imediatista.

Isso posto, não é de surpreender que, no tumulto de relações muitas vezes conturbadas por entrechoques políticos, as questões essenciais predominem sobre os percalços do curto prazo, conduzindo à conclusão lógica de que os chineses mantêm uma expectativa muito positiva para o futuro do Brasil. A prova final: suas demonstrações de amizade, sua busca por uma aproximação cada vez mais estreita, os acordos de cooperação em áreas estratégicas, o volume do comercio e os vultuosos investimentos do gigante asiático na terra descoberta por Pedro Alvarez Cabral.

Por outra parte, ainda que pouco mencionado, importante é lembrar que com relação ao Brasil a China não guarda nenhuma lembrança negativa do passado que pode ter permanecido no subconsciente coletivo como, pelo contrário, é o caso com países colonialistas da Europa assim como com EUA, Japão, Rússia e Índia.

Um marco fundamental desse relacionamento, tal sua abrangência política, econômica, tecnológica, cientifica, cultural e estratégica, foi a assinatura e implementação do Plano Decenal de Cooperação Brasil-China 2012-2021, o qual, em maio de 2022, manteve sua continuidade assegurada com o acordo celebrado entre os dois gigantes para o início do Plano Estratégico 2022-2031.

Entre os diversos aspectos positivos dessa união de interesses deve assinalar-se a consolidação de um processo de cooperação, iniciado pouco mais de 34 anos atrás com a histórica visita do então presidente Sarney à China assim como o registro de que Brasil nunca assinou com outra nação um tratado tão abrangente incluindo tantos setores estratégicos e a perspectiva de um trabalho compartilhado até o umbral de um futuro enunciado.

Ainda mais: Deve continuar a propiciar um amplo intercâmbio de informações científicas e será decisivo na formação de profissionais, cientistas e técnicos de nível superior, essenciais para movimentar a nova forma de produzir riqueza que,
naturalmente, deverá surgir dessa parceria que beneficiará ambas as nações e deverá inserir-se no desenho de um futuro de bem-estar compartilhado.

Um destaque muito importante desse acordo é a cooperação em áreas intensivas de conhecimento, sendo de assinalar-se tecnologias em energia renovável e energia limpa; bioenergia; nanotecnologia; biotecnologia aplicada à agricultura, à biomedicina e as ciências da vida; tecnologia agrária e florestal; e tecnologias de informação e comunicação, entre outras e que , pela sua abrangência, são tanto um verdadeiro roteiro para uma política de desenvolvimento sustentável, como uma matriz de oportunidades crescentes para serem aproveitadas por ambos os países e que revela o interesse em caminhar cada vez mais juntos para enfrentar os desafios dos tempos que virão.

Bem, fica a esperança de que tudo continue estruturado com a clara percepção das características de cada país e os princípios de benefício e respeito mútuo, desenvolvimento conjunto e convivência pacífica num mundo em constante mutação.

Por Miguel Sainún Nozar, economista, escritor e mentor, com uma visão especial sobre o papel do empresário na construção do futuro.