Temos consciência dos graves problemas atribuídos ao consumo de plástico (especialmente com relação à poluição de rios e mares), por outro lado, vivemos um dos melhores momentos na relação de pós-consumo de embalagens plásticas no Brasil.
Por Tarciano Oliveira, CEO da Água Santa Rita e Diretor do Prêmio Personalidade de Vendas da ADVB/SC
Na Exposição Internacional de Londres de 1862, quando o inglês Alexandre Parkes apresentou sua PARKESINA – um material que podia ser moldado a quente e mantinha sua forma quando esfriava –, não sabia o quanto este invento seria importante para a humanidade. Foi ele quem deu origem ao aperfeiçoamento até o desenvolvimento da resina, que é matéria prima do plástico.
Verdade seja dita, hoje é impossível pensar na vida dos habitantes de nosso planeta sem o uso deste material, encontrado em praticamente tudo ao nosso redor. Seja nos calçados, nas roupas, nos veículos, nas construções, nas mais diversas embalagens, nos equipamentos eletrônicos, na medicina e muito mais.
Definitivamente, não temos como pensar em retornar as seringas de vidros aos hospitais e laboratórios ou trabalhar com materiais utilizando-se de marfim de animais como antigamente. Tampouco caberia voltar às caixas de monitores e TVs em madeira, aos painéis de automóveis também feitos de madeira ou às lanternas de veículos feitas de vidro, quando temos o plástico.
Dentre seus benefícios, é possível aproveitar a fácil modelagem, a resistência às variações de temperaturas; além da transparência, leveza e resistência, que permitem a mais diversa criação de produtos, e, o principal, permite a RECICLAGEM.
O PLÁSTICO NAS INDÚSTRIAS
Um exemplo onde há uma política forte de críticas ao uso do plástico para embalagens é na indústria de alimentos e bebidas. Porém, em uma análise rápida podemos verificar alguns pontos não racionais nas sugestões da transferência da embalagem de plástico para o vidro, por exemplo. Aqui utilizaremos como parâmetro a embalagem de 500ml de vidro em comparação com a embalagem de 500ml de plástico PET (Polietileno, Poliéster).
No Brasil temos algumas poucas indústrias de garrafas de vidro, as quais normalmente estão localizadas longe das empresas de envase. E você deve estar se perguntando no que exatamente isso interfere neste contexto, correto? Pois bem, a produção de uma garrafa em vidro é, obviamente, concentrada na indústria do vidro e para ser enviada às indústrias de envase de bebidas, cosméticos, detergentes e outras, é transportada em caminhões. Em suas carretas geralmente cabem 65.268 garrafas acomodadas em 28 pallets, com em média 2.331 garrafas por pallet. Nesta locomoção, o transporte de garrafas vazias queima combustível, pneus ocupam estradas e muitos quilos de CO2 são emitidos na atmosfera.
Já as garrafas PET podem ter a parte final da sua produção realizada pelas próprias empresas de envase, que realizam o processo de sopro a partir de preformas – material que dá origem a uma garrafa PET.
O processo de sopro de garrafa PET consiste em aquecer as preformas e soprá-las em máquinas, dando para as preformas o molde e formato final da garrafa. Assim, para a produção de garrafas PET é necessário apenas o transporte das preformas, e a mesma carreta que transportaria 65.268 garrafas de vidro, tem capacidade para carregar em média 952.000 preformas – 56 pallets com 17.000 preformas em cada –, ou seja, quase 15 viagens a menos.
Visualize melhor esse comparativo no esquema abaixo:
CAPACIDADE DAS CARRETAS POR VIAGEM | GARRAFAS DE VIDRO | GARRAFAS PET |
Volume de carga nas carretas (por tamanho das embalagens) | 28 pallets | 56 pallets |
Volume por Pallet | 2.331 | 17.000 |
Volume total transportado por viagem | 65.268 | 952.000 (14,5 vezes a mais que o vidro) |
Ainda se não bastasse, após envasada, uma garrafa PET vazia pesa em torno de 15 gramas, enquanto uma de vidro chega a aproximadamente 200 gramas. Isso significa que, para compensar os pesos das embalagens, o veículo da entrega precisa transportar em torno de 25% menos produtos, gerando a necessidade de mais viagens, mais desgaste de pneus, de combustível e outros recursos.
LOGÍSTICA REVERSA E CONSUMO CONSCIENTE DO PLÁSTICO: RESPONSABILIDADE COMPARTILHADA
Evidentemente, compartilhamos e temos consciência dos graves problemas sendo atribuídos ao consumo de plástico, especialmente no que diz respeito à poluição de rios e mares, decorrentes do relaxamento dos consumidores no descarte correto das embalagens.
É sério e alarmante os dados que se referem à quantidade de (micro)partículas encontradas nos oceanos, além de embalagens inteiras à deriva. Nesse sentido, vale reforçar que é muito perceptível a falta de educação da população no que tange ao uso e descarte correto deste material, visto que é 100% reciclável e apto a ser convertido em novos produtos, gerando empregos e renda.
Entretanto, é possível afirmar que estamos vivenciando um dos melhores momentos na relação de pós consumo de embalagens plásticas no Brasil. Vemos cada vez mais a implantação da Logística Reversa em diversas empresas dos setores responsáveis. Isto primeiramente provocado por obrigação legal e, atualmente, a partir da incorporação na cultura das empresas quanto ao trato deste material e na preocupação de sua destinação.
Ações como essas têm alcançado boa parte da população, que é peça fundamental nas metas de reciclagem. Todos esses movimentos impulsionam a inovação e o desenvolvimento de tecnologias para atender a real e verdadeira preocupação com a sustentabilidade e impacto ambiental; visando o uso racional deste material, seu reaproveitamento e o aumento do ciclo de vida do PET.
TENDÊNCIAS DE MERCADO PARA IMPULSIONAR LOGÍSTICA REVERSA E CONSUMO CONSCIENTE
Uma das tendências é o crescimento na aproximação e relacionamento das Indústrias com as Associações de Catadores. Essa parceria tem se mostrado importantíssima para trazer resultados significativos nas metas de reciclagem, somados – é claro – a novos e modernos equipamentos para trituração, limpeza, separação, secagem e embalagem de resíduos de garrafas PET.
A partir desta rede de trabalho, junto com outras iniciativas e ferramentas modernas, é possível gerar novos materiais com alta qualidade e valor agregado; além de incentivar o surgimento de empresas especializadas na geração de Certificados de Reciclagem, que por meio de tecnologias de Blockchain, conseguem fazer toda a comprovação das etapas dos processos demonstrando as coletas, as quantidades recolhidas, recicladas e transformadas.
A importância disso é bastante clara: obter e fornecer toda a transparência e rastreabilidade possível, tornando este ecossistema e os Certificados de Reciclagem mais confiáveis para os consumidores e investidores.
Por outro lado, as plataformas digitais são cada vez mais importantes na apresentação de soluções para a sustentabilidade ambiental. Segundo Mario Gaidzinski, diretor da Eloverde, a partir delas, as empresas podem e têm oferecido soluções integradas para gestão de resíduos, documentações, fornecedores e alertas aos riscos ambientais. Além disso, algumas delas são capazes de proporcionar a geração de relatórios personalizados e dashboards interativos para tomada de decisão dos gestores.
Essas soluções facilitam a Logística Reversa, uma vez que permitem a gestão de aspectos e impactos ambientais, o acompanhamento de geração de resíduos, a programação de tarefas de coleta e destinação de resíduos, entre outras funcionalidades. É possível ainda citar uma tendência cada vez mais comum e facilitadora com a implantação de máquinas coletoras de garrafas PET em pontos estratégicos, que creditam pontos para a conta do consumidor, incentivando a sua participação na cadeia da reciclagem a partir do descarte correto do material. Nestes casos, os pontos acumulados podem ser trocados por descontos em compras, produtos ou serviços.
Mas a peça fundamental, e que já começa a despontar, é o investimento em EDUCAÇÃO por intermédio de palestras, cartilhas, coletores em escolas, gincanas, retorno financeiro a escolas e outras iniciativas. Em comum, todas elas têm como meta apresentar ao cidadão, desde tenra idade até aos mais idosos, a necessidade do plástico para o dia a dia da sociedade; reforçando o uso racional e o correto descarte, para que possa ser iniciado um novo ciclo sem prejudicar o Planeta, de modo que possamos continuar a ter as vantagens e facilidades que o Plástico nos proporciona