O ecossistema de Portugal tem um storytelling bem construído. Qual é o pitch de Santa Catarina?

O ecossistema de inovação português vem chamando a atenção do mundo e nós fomos lá ver de perto o que vem acontecendo nas organizações públicas e privadas. Reunimos 20 lideranças catarinenses, entre gestores públicos, representantes de instituições de ensino e empresários, para uma missão organizada pela Unesc e Alfa Comunicação e Conteúdo, com base em Criciúma (SC). 

Por Andressa Fabris, Diretora de Comunicação da ADVB/SC e Diretora da Alfa Comunicação e Conteúdo

De pronto, a primeira constatação é de que um processo de maturação ainda está em andamento e há muitas similaridades com o que vem acontecendo em Santa Catarina. Assim como lá, os gestores públicos daqui – uns mais, outros menos – estão empenhados em fortalecer seus ecossistemas de inovação, criando centros de inovação regionais, estimulando o conhecimento e fomentando os esforços dentro das universidades e nas empresas privadas. 

O que pode ser a diferença em Portugal é a sinergia entre as instituições e a forma como as organizações públicas e privadas valorizam o conhecimento da academia. Por todos os locais onde passamos, havia referências a instituições de ensino, especialmente à Nova SBE – a escola de economia e gestão da Universidade Nova de Lisboa. O modelo universitário português é muito similar ao que temos em Santa Catarina com as universidades comunitárias. São instituições de ensino criadas com investimento público, mas que tem uma gestão autossustentável através de captação de recursos externos e cobrança de mensalidades, devolvendo seus resultados em investimentos na comunidade regional.

Lideranças de SC (gestores públicos, representantes de instituições de ensino e empresários) em missão a Portugal organizada pela Unesc e Alfa Comunicação. / Foto: Divulgação

Mas, o que particularmente me chamou a atenção, profissional de comunicação que sou, foi a unidade de discurso sobre o ecossistema português. Não importa o local visitado, se era público, privado ou filantrópico, a conversa sempre iniciava com a apresentação de como Portugal se reconstruiu e passou a ser uma referência no contexto da inovação. Isto mostra que, além do desenvolvimento econômico, Portugal está construindo uma marca. O país sabe bem aonde quer chegar e como quer ser reconhecido mundo afora: porta de entrada para internacionalização de empresas e um lugar excelente para morar.

Para quem ficou curioso, a história contada é a seguinte: Portugal sempre foi desconectado do cenário europeu, considerado o “fim do mundo”, pouco atrativo e, por isso, sofria as consequências econômicas de pouco interagir com outros países. Havia, inclusive, uma piada de que Portugal era o país mais próximo da Europa, tamanho o isolamento. O primeiro marco da mudança foi a criação da União Europeia. Portugal passou a receber investimentos, crescer economicamente e desenvolver novos negócios. Mexeu também com a autoestima do povo, passando por uma mudança de olhar interno. De uma situação de isolamento, o país passa a se reconhecer como porta de entrada para que as empresas façam negócios com a Europa e com os países de língua portuguesa. No cenário da inovação, um outro marco foi a chegada do Web Summit, o grande evento que reúne aproximadamente 70 mil pessoas de 160 países. 

QUAL O PITCH DE SANTA CATARINA?

O storytelling bem construído em Portugal provoca uma reflexão sobre a marca do ecossistema de inovação de Santa Catarina. Qual história estamos contando para quem visita o Estado? Há uma unidade de discurso sobre o posicionamento de Santa Catarina neste contexto? Florianópolis é a precursora da inovação, já ganha destaque internacional e tem o seu próprio storytelling. No restante do estado, os centros de inovação estão em diferentes momentos de maturação, alguns iniciantes, outros em expansão. Qual o ponto de coesão entre as histórias contadas nas diferentes regiões do Estado? Não é simplesmente definir algo a ser repetido, é preciso que faça sentido para as pessoas que propagarão esta mensagem.

O exemplo de Portugal confirma que bons negócios vêm com uma marca forte. Um primeiro passo é definir o posicionamento do estado, como queremos ser reconhecidos para atrair talentos e investimentos. Afinal, qual é o nosso pitch? 

Esta história precisa ser compartilhada com os catarinenses de uma forma que engaje a todos e seja incluída nas apresentações das empresas, dos órgãos públicos, das instituições de ensino e demais organizações. Vale lembrar que Portugal é um país menor que Santa Catarina em extensão territorial, embora o número de habitantes seja maior. O país europeu tem 10,3 milhões de pessoas em pouco mais de 92 mil km², enquanto nosso estado tem 7,3 milhões de moradores em 95,3 mil km². 

Então, se foi possível engajar os portugueses, é possível motivar os catarinenses a seguir na mesma direção e fazer com que a marca da inovação do estado se consolide e atraia a atenção do mundo. Fazendo uma analogia ao ambiente corporativo, precisamos de um grande trabalho de comunicação interna.