Água

Especialistas das Nações Unidas em mudanças climáticas debatem e sugerem soluções para administrar mais eficientemente e evitar a crescente escassez da commodity mais preciosa do planeta, tentando propor ações para evitar aquilo que pode ser “uma das causas mais prováveis de guerras no Século XXI”, acendendo a luz amarela de possíveis conflitos no Oriente Médio, na Ásia; na África, no sudeste de Europa e do norte de América do Sul.

      Como pano de fundo permanece a severa advertência do organismo internacional de que mudança climática, o crescimento demográfico, a poluição e o uso inadequado, provocaram um aumento da pressão sobre a demanda da água disponível, o que obriga a repensar como satisfazer esta galopante necessidade que põe em risco o futuro da humanidade.  

      Os fatos reclamam a necessidade urgente de melhorar substancialmente o gerenciamento dos recursos hídricos, sob pena de continuar reduzindo a disponibilidade de água de boa qualidade para uns 30% (2.400.000.000) dos habitantes da terra, dos quais quase 1.000.000.000 sofrem de forma crônica da falta desse elemento insubstituível.

      O problema é de uma gravidade assustadora. Para citar apenas dois exemplos, com possíveis efeitos nefastos para centenas de milhões de pessoas em um 2022 açoitado com temperaturas extremas e falta de chuvas em boa parte do planeta, presenciamos a queda assustadora dos gelos do Himalaia – essenciais para manter o fluxo dos grandes rios da China, Yang Tsé e Amarelo, os quais, entre outros benefícios, são chaves para a produção de alimentos e geração de energia do gigante asiático; e também o declínio, quase impossível de conceber, de cursos de água lendários como o Reno, o Danúbio e o Pó, gerando consequências devastadoras para o Velho Continente.

      Olhando o outro lado da moeda, vale a pena anotar que entre as grandes nações o Brasil tem uma posição excepcional, já que, com menos de 3% da população global, possui 13% de suas águas doces superficiais. E tem muito mais, pois considerando o aquífero Guarani – compartilhado com Argentina, Bolívia, Paraguai e Uruguay – e somando seu irmão maior, o fabuloso aquífero Alter do Chão, o maior do mundo, com 467.000km2 nos estados de Pará, Amapá e Amazonas – o país é o feliz possuidor da segunda maior reserva de agua potável do planeta, apenas superado pela Antártica.

      Sob todo ponto de vista, essa fartura é um grande tesouro da humanidade, de valor econômico incalculável e crescente que, quando plenamente utilizado, deve mudar de modo incrível o futuro do Brasil. 

      Porém, é bom lembrar que nem tudo são rosas. Para ser utilizada, a água precisa estar disponível no local certo, no tempo certo e na quantidade certa. Nesse sentido, a geografia e o clima nem sempre foram (são) favoráveis ao Brasil, que convive penosamente com áreas com carências históricas, como a Região Nordeste, lar de pouco mais de 40 milhões de brasileiros.

      Como parte importante da solução desse problema, foi idealizado e já é operacional projeto de transposição do Rio São Francisco o qual, através de 400km, carrega 1,5% de seu caudal para levar o líquido vital para 12.000.000 de pessoas, especialmente do interior dos estados nordestinos.

     Essa obra tem uma abrangência econômica, social e cultural que vai muito além de apenas a solução de um grave problema hídrico, desde que tem potencial para transformar radicalmente a tradicional hierarquia de poder entre os principais mentores políticos do nordeste brasileiro.

     Água é vida. E um bom negócio que, como o petróleo, já ocupa um lugar nas cotações de commodities de Wall Street.

Por Miguel Sainún Nozar, economista, escritor e mentor, com uma visão especial sobre o papel do empresário na construção do futuro.