Nossa civilização pode tanto ser definida como a última etapa da rebelião dos gênios da energia, tal como a conhecemos e usamos negligentemente como um bem abundante e sempre disponível, ou o degrau inicial da utilização massiva de tecnologias ambientalmente não agressivas para produção daquilo que podemos, com toda propriedade, apelidar como o sangue vital de nossa era.
Podemos aceitar que uma das bases mais importantes para geração de riqueza de nossa civilização que, desde nosso nascimento, aprendemos naturalmente a aceitar como definitiva e intocável – é assim, não pode mudar, faz parte – tem como alicerce a extração de materiais fósseis, basicamente, carvão e petróleo, não renováveis, finitos, exauríveis, concentrados, sujos e que, ainda assim, de mil formas, provam continuamente que ainda são fontes imprescindíveis para mexer as engrenagens do progresso de nosso atribulado Século XXI.
Hoje, a guerra entre Rússia e Ucrânia não consegue esconder, nos seus sórdidos bastidores, a importância desses dois mortais agentes poluidores, escancarados no rastro de destruição, morte e nefastos efeitos colaterais que açoitam a toda a humanidade.
Do mesmo modo, não podemos deixar de lembrar que, nos últimos 150 anos, essa dupla sinistra deixou um caminho de iniquidades, crimes, ditaduras, monopólios, doenças, trabalho subumano, guerras, ódio, conflitos intermináveis, enfim, a expansão e a essencialidade de seu uso foram suficientes para justificar e encorajar enxurradas de ambição, de falta de escrúpulos, de ânsia de poder, do uso indiscriminado de força, de aventuras, de paixão e de preconceitos que, em parte, contribuíram para moldar politicamente nosso planeta.
Já que estão fartamente comprovados os efeitos catastróficos desses “dois irmãos terríveis” sobre o aquecimento terrestre, temos que aderir – obrigatoriamente – à outras fontes de energia, nem que mais não seja por simples questão de tentativa de sobrevivência no caos da pegada civilizatória de nosso tempo.
Assim, como na maior parte da história humana, começam a ocupar seu lugar fontes derivadas do sol, do vento, da água, da biomassa, do hidrogênio e de diversos outros meios renováveis e não poluidores, aos quais, no andar do tempo, devem somar-se outros que surgirão naturalmente acicatadas pelo engenho humano e acelerados pela ditadura indesejável dos meios tradicionais.
Esses meios – sol, vento, água, hidrogênio – que já são parte fundamental de uma nova forma de dominar a ciência de produzir energia – têm muitas coisas positivas em comum: são descentralizadas, podem ser utilizadas sob medida às necessidades dos usuários e – muito especialmente – não podem ser objeto do monopólio de países ou regiões.
São, essencialmente, um grito de liberdade no caos dos interesses contrapostos de nosso tempo.
Muito importante: a Agenda 2030 das Nações Unidas (ONU) – guia fundamental que estabelece as medidas necessárias para a construção de um mundo inclusivo e sustentável – no seu 7º. Objetivo define como meta “garantir, a toda a sociedade, o acesso à energia *barata, *confiável, *sustentável e *renovável.
Atenção para cada um desses termos que, certamente, são um pesadelo para nossa conhecida dupla poluidora. De meu caderninho preto: Por estas bandas, em 15 de junho de 2022, data celebrada como o Dia Mundial do Vento no calendário das Nações Unidas, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) registrou a produção recorde de 21,65 gigawatts (GW) de energia eólica, suficiente para atender o consumo de 10,8 milhões de residências, algo como 17% do total Brasil.
Por Miguel Sainún Nozar, economista, escritor e mentor, com uma visão especial sobre o papel do empresário na construção do futuro.