Por Miguel Sainún Nozar, economista, escritor e mentor, com uma visão especial sobre o papel do empresário na construção do futuro.
“Cada arma fabricada, cada navio de guerra lançado, cada foguete disparado, significa, no final das contas, um roubo daqueles que estão famintos e não são alimentados, daqueles que tem frio e não são agasalhados. O mundo em armas não está apenas gastando dinheiro. Está gastando o suor de seus trabalhadores, a genialidade de seus cientistas e a esperança de suas crianças. Em verdade, essa não é uma forma de vida. Por baixo da roupagem da ameaça de guerra, a humanidade está pendurada numa cruz de ferro.”
(Dwight D. Eisenhower, Presidente dos EUA, em seu discurso de despedida do seu segundo mandato, em 17 de janeiro de 1961).
Eisenhower, militar de carreira, Comandante Supremo das Forças Aliadas na II Guerra Mundial (1939-1945), herói americano, duas vezes eleito presidente dos EUA, foi também quem advertiu o mundo sobre os perigos do complexo industrial-militar, um monstruoso esquema de interesses espúrios que entrelaça o sistema de abastecimento das forças armadas com a mítica de defesa e da segurança.
Esse esquema sobrevive muito bem até nossos dias e se alimenta de qualquer situação que sirva para desovar seus sempre disponíveis arsenais, liderando negócios fabulosos da ordem de centenas de bilhões de dólares.
Atropela assim, com total indiferença, à diplomacia, à convivência pacífica entre as nações e os preceitos básicos das Nações Unidas. Ainda, segundo muitos especialistas, é responsável pela promoção de conflitos sangrentos em todos os cantos do mundo, assim como usa e abusa de meios ilegítimos para avivar os desacordos e a desconfiança entre nações, etnias e grupos.
Uma grande ironia
O deboche é que EUA, China, França, Reino Unido e Rússia, os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, formalmente responsável pela manutenção da paz mundial, são os maiores fabricantes e exportadores de armas do globo, compondo uma triste demonstração de hipocrisia política globalizada!
Ainda, um breve olhar na história desde o final da II Guerra Mundial, revela que esse singular “quinteto da morte”, foi também o principal responsável pelo aumento exponencial dos gastos com armas nas últimas seis décadas!
Segundo estimativas do respeitado Instituto Internacional de Investigação para a Paz, de Estocolmo, reconhecida autoridade mundial em temas militares, foram gastos no mundo, em média anual, no último quinquênio, pouco mais de 2 trilhões de dólares com as forças armadas, segurança e serviços afins.
Bem, isso segundo dados oficiais. Porém, na conta de especialistas em orçamentos públicos, esse valor deve ser (é!) consideravelmente maior, contando as mil e uma tretas utilizadas para esconder a origem e o uso de recursos quando a intenção é ocultar finalidades condenáveis.
Visto de outra forma, esse valor “oficial” corresponde aproximadamente à 400 vezes o valor aprovado para a FAO – Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura – principal mecanismo de combate à fome no mundo!
Flagelo que, em 2020, castigava a mais de 800 milhões de pessoas no planeta, 30% delas crianças! (Vale fazer a conta).
Será proveitoso refletirmos, por um momento, sobre o que aconteceria se apenas 10 % (não mais de dez por cento!) fosse destinada a usos que, na definição da ONU, são parte essencial do desenvolvimento humano e dizem respeito à dignidade das pessoas, como saúde, educação, saneamento básico, oportunidades de trabalho condigno, segurança alimentar, igualdade de gênero, segurança pessoal, acesso à água potável e outros buracos negros no tecido social.
Apenas é outro tipo de conflito que precisa ser solucionado, porém que não precisa de instrumentos de morte e sim da aplicação continua e determinada de princípios de governança eficaz, solidariedade, trabalho e convivência harmoniosa.
A humanidade precisa, urgentemente, de mais humanidade!
(Nota: ações de empresas fabricantes de armas estão alcançando níveis recordes de alta, especialmente nos EUA. Analistas desse mercado recomendam comprar agora, porque essa alta deve continuar, com toda certeza. Enfim, para alguns, a guerra é um bom negócio. E o Brasil?).