O Século XIX esteve amarrado ao poder imperial da Inglaterra. O Século XX permaneceu subordinado ao domínio dos EUA. O Século XXI parece seguir firme na senda profetizada pelo então presidente da Coréia do Sul, Park Chung-hee´s, quem já afirmava, em 1980, na conferência de apertura da ASEAN – Associação de Nações do Sudeste Asiático: “O Século XXI será o século do Pacífico. Desde já, as poderosas nações ocidentais podem preparar-se para uma revolução que sacudirá os alicerces da economia mundial e mudará, quem sabe para sempre, o equilibro do poder”.
Proféticas palavras! Catapultados pela revolução econômica da China, iniciada em 1978, e no meio do turbilhão econômico que balizaram as décadas seguintes e que estavam mudando as regras do jogo do poder, passou quase despercebido que o novo caminho para as terras do dragão não assinalava apenas uma mudança nos padrões de participação nos fluxos internacionais do comercio, mas, fundamentalmente, o inicio de todo um processo de edificação de uma nova nação destinada a um lugar principal na corrida do poder dos século vindouros.
Vale lembrar, por outro lado, que o fator China é decisivo para explicar essa expressiva mudança que se deslocou do Atlântico – liderado por Europa/EUA – para o Pacífico, onde desponta indiscutivelmente um novo poder planetário, respaldado por uma dezena de países e mais da metade da população mundial que não esqueceram – a memória dos orientais, como suas tradições, é sabidamente muito maior que aquela conservada pelos ocidentais – do longo e sofrido período de dominação sob o pesado comando dos “diabos brancos de olhos azuis”.
No presente, a China é a segunda potência econômica mundial – seu PIB equivale à praticamente 80% de seu similar nos EUA – e são firmes as predições que, no andar da carruagem, deverá ocupar o primeiro lugar em algum ponto da próxima década. Em tempo: Segundo os dados do FMI, quando medido pelo PPP – Paridade do Poder de Compra, que hoje é considerado um termômetro mais realista da riqueza de um país – a China ocupa o lugar mais alto, superando os EUA.
Credenciais? Não faltam, como os investimentos em ciência e tecnologia equivalentes a quinhentos milhões de dólares…por dia! Ou os incontáveis benefícios do projeto Belt and Road, que se consolida como um formidável empurrão ao processo de globalização. Ou a formação de mais de 24.000 designers industriais – média dos cinco últimos anos – para dar suporte técnico à transformação acelerada da produção do “Made in China 2025”. Ou um mercado que anda a passos largos para ser o maior do mundo e que pode incorporar ainda uma reserva formidável de contingentes de novos consumidores. E por aí vai.
Na realidade a China joga pesado, do alto de seu imponente mercado potencial de mais de 1.400.000.000 d habitantes, dos quais uns 700 milhões em áreas rurais. E que, ávidos dos prazeres “proibidos” do consumo, respondem rapidamente aos estímulos do crédito e de uma renda adicional, prodigamente disponibilizada pelo governo.
Problemas na China? Imensos, do tamanho de suas potencialidades. Mas a necessária energia, talento e perseverança para sua solução fazem parte da alma dos herdeiros dos construtores da Grande Muralha. Bem, até para quebrar paradigmas, recente pesquisa de Global Times revela que 50% das mulheres mais ricas do mundo….são chinesas!
E o Brasil? Tem tudo para ousar e ganhar cada vez mais espaço nesse universo de oportunidades, apoiado na amplitude e o alcance estratégico dos acordos Brasil-China que, sem dúvida, oferecem um marco pleno de promessas para os desbravadores da terra do dragão.
Por Miguel Sainún Nozar, economista, escritor e mentor, com uma visão especial sobre o papel do empresário na construção do futuro.