O salto do dragão

      Todos podemos concordar que os chineses são grandes jogadores no xadrez da geopolítica planetária, onde utilizam frequentemente as táticas imbatíveis do lendário general e filosofo Zhao Yun, devidamente acomodadas pelos preceitos inapagáveis do Mestre Confúcio: “Com paciência, perseverança e equilibro qualquer realização humana terá sucesso”.

      Em decorrência dessa visão e levando em conta o apego incomparável dos chineses no longo prazo – única entre as grandes nações e quase que incompreensível para a cultura ocidental – emerge a paciente construção das fundações de uma ponte para um futuro enunciado onde a China exercerá uma liderança indiscutível, empalidecendo a importância de qualquer outra nação.

      Responde pelo nome “Um Cinturão e uma Rota”. Ou One Belt and One Road Initiative (BRI).

      Melhor definindo: Um Cinturão é uma denominação especial para a parte terrestre da legendaria Rota da Seda que, a partir do noroeste da China, eram os caminhos que atravessavam três continentes – Ásia, África e Europa – levando produtos cobiçados por diversas civilizações, com destaque para seda e especiarias e, o mais importante, disseminando ideias, conceitos, tecnologia e cultura. Já a Rota é uma Nova Rota da Seda Marítima do Século XXI, fazendo referência á parte marítima dessa antiga via, agora estrategicamente ampliada para ajustar-se melhor ao mundo moderno.

      Tudo começou em 2013 quando o presidente da China, Xi Jinping, lançou um grandioso projeto de obras de infraestrutura focalizando especialmente os países do terceiro mundo, sem discriminações ou preconceitos, afirmando: “Esperamos desencadear novas forças econômicas para construir novas plataformas para o desenvolvimento mundial e reequilibrar a globalização para que a humanidade chegue mais perto de uma comunidade de destino comum”. Completando essa ideia, o ex-presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, presente ao encontro, declarou: “É um esforço ambicioso, sem precedentes, com o qual a China deve sacudir a ordem econômica mundial”.

      Aberto à adesão de qualquer nação, desde seu início o projeto ganhou apoio de dezenas de países e organizações internacionais que perceberam a importância da iniciativa para acelerar o ritmo de seu desenvolvimento e atender melhor às necessidades dos habitantes deste sofrido planeta.

       No final do 1º. Trimestre de 2022, seu sucesso pode ser medido pela adesão de 150 países, mais de 2.000 obras e mais de 60% da população mundial dentro de seu âmbito de ação.

     Por outra parte, muitos afirmam que se trata de uma confirmação mais da inteligente estratégia do gigante asiático para compensar e sobrepassar a influência dos Estados Unidos e de outras grandes nações numa vasta parte do mundo, além de ganhar novos espaços para escalar uma posição hegemônica no cenário global 

      Ou, como relembra Peter Dutton, renomado especialista em temas de poder geopolítico e professor da Escola Naval de Guerra de Rhode Island, EE.UU: “Isso é o que as potências em expansão costumam fazer. A China aprendeu com os ingleses que, 200 anos atrás, protegeram seus interesses regionais com obras em pontos estratégicos de seu Império

      O plano tem como pontos focais alguns princípios defendidos pelas Nações Unidas (ONU), como: respeito mútuo pela soberania e integridade territorial; não agressão; não interferência nos assuntos internos; benefícios mútuos; governança responsável; e desenvolvimento conjunto. Traduzindo: a China não comparece nessa iniciativa como um gigante todo poderoso e arrogante, senão apenas como um amigo disposto a compartilhar, de forma igualitária, os benefícios decorrentes dessa obra incomparável. Para dar suporte a essa iniciativa, China fundou o Banco Asiático de Investimentos em Infraestrutura (BAII), com capital inicial de US$ 100 bilhões, e o Fundo da Rota da Seda, com aporte inicial de US$ 40 bilhões. Traduzindo: Dinheiro não é problema!

      Em tempo: iniciando seu caminho na América Latina em maio/2022, a BRI desembarcou em Argentina com um acordo de 24 bilhões de dólares em obras de infraestrutura.  Claro, é apenas o começo.

Por Miguel Sainún Nozar, economista, escritor e mentor, com uma visão especial sobre o papel do empresário na construção do futuro.