Os 5 ASSES

Por Miguel Sainún Nozar, economista, escritor e mentor, com uma visão especial sobre o papel do empresário na construção do futuro.

O vice-ministro de Relações Exteriores da Rússia, Sergei Ryabkov, declarou recentemente que era necessário instaurar uma nova ordem mundial liderada pela Rússia e China, secundadas pelo Brasil, Índia e África do Sul. Na prática, o BRICS.
Isso seria possível? Ou é apenas uma bravata mais nascida no fragor de circunstâncias excepcionais?
Voltemos ao passado:

Na luta pela hegemonia do planeta – globalizado, inquieto, sofrido e que ainda hesitava na escolha de seu rumo – em 2001, Jim O’Neill, na ocasião economista-chefe do banco Goldman Sachs que, verdade seja dita, naqueles tempos mantinha a credibilidade como uma das mais prestigiosas instituições financeiras do mundo, consultou sua bola de cristal e produziu um alentado estudo no qual antecipava, lá para 2050, uma nova arquitetura da economia global, colocando no palco a sigla BRIC para batizar o predomínio global que deveria surgir de uma aliança de quatro grandes países: Brasil, Rússia, China e Índia que, desde 2011, somaram África do Sul, ponte estratégica entre Ásia e América do Sul, o que levou a transformar a sigla inicial em BRICS para incluir o novo aliado.

A partir desse estudo a ideia de uma coligação entre esses países encontrou eco favorável e, após amplas consultas e negociações, o grupo celebrou uma primeira cúpula entre seus principais mandatários na Rússia, em 2009, dando início ao processo geopolítico para marcar presença destacada no mundo onde as principais referências eram os EUA e outras nações poderosas do Ocidente.

O enorme sentido histórico desse projeto era indiscutível e, sob um ponto de vista abrangente, suas características sobressalentes indicavam uma excepcional capacidade para sinalizar os rumos do Século XXI. No transcorrer dos anos isso ficou cada vez mais palpável na medida que se consolidava como protagonista destacado na abordagem de muitas das questões planetárias que ocupam a agenda da governança mundial.

Tanto é assim que, entre o entrechocar de interesses – existiam e ainda permanecem disputas históricas entre os participantes asiáticos – os encontros anuais entre os dirigentes máximos do bloco colocavam na vitrine temas como manutenção da paz mundial; mecanismos para aumentar o ritmo do desenvolvimento; esforços para redução dos gases de efeito estufa; necessidade de facilitação do comércio internacional; compartilhamento de pesquisas avançadas na exploração do espaço cósmico, na produção de alimentos e na geração de energia; incremento do intercambio nas áreas de saúde, educação, gestão pública, defesa e meio ambiente que, entre outros, fizeram parte da nutrida agenda de discussões e negociações entre os novos “parceiros”.

O fato é que, liderados pela China, esses países pareciam estar acreditando que podiam fazer a diferença, deslocar de vez o eixo do poder tradicional, EUA-Europa e situar-se como uma alternativa incontestável na formatação de um mundo de paz e prosperidade.

É importante anotar que, no início da terceira década do Século XXI, o BRICS exibe credenciais impressionantes: Inclui 3,2 bilhões de habitantes, 41% da população mundial; seu PIB, estimado em Paridade de Poder de Compra, está no entorno de 32% do total global; três deles – China, Rússia e Índia – são potências atômicas; tem uma participação relevante na conquista espacial; seu poder militar eclipsa o de qualquer país do mundo; sua liderança é notória em campos básicos da ciência e da tecnologia; possui imensos recursos naturais no seu território de 40 milhões de Km2; seu comércio internacional é a chave do processo de globalização e o crescimento de sua economia dá uma contribuição essencial ao desenvolvimento global.

Somando a tudo isso, para contribuir de forma prática com seus projetos, fundaram em 2014 seu próprio banco, o Novo Banco de Desenvolvimento, com sede em Xangai, com US$ 100 bilhões de capital inicial, planejado basicamente para financiar projetos de infraestrutura e desenvolvimento entre seus membros em condições favoráveis, competindo diretamente com o Banco Mundial.

Em outras palavras, considerados no seu conjunto, o BRICS surge como a maior potência do planeta!
Isso, em teoria.

Assim, não merecem confiança.
De qualquer modo, entre as forças que pugnam pelo predomínio global, o BRICS deve tentar participar dessa corrida maluca que, em geral, acoberta interesses inconfessáveis muito bem disfarçados em nobres objetivos.

Fica a questão: Até onde chegará?