Olhar no futuro

Ninguém pode negar que o Brasil precisa e pode crescer muito mais que esses pobres resultados registrados nos últimos anos que, por outra parte, apenas servem para encobrir inaptidões da gestão econômica e, continuamente, brincam maldosamente com a esperança de dias mais venturosos para a imensa maioria dos sofridos habitantes da bela terra descoberta por Pedro Alvarez Cabral

Na antecâmara do próximo governo, fica a expectativa de um novo tempo quando, com visão, coragem e competência, os empecilhos que impedem o crescimento da economia brasileira no ritmo compatível com suas necessidades e potencialidades, sejam criteriosamente mapeados e solucionados.

Entre esses obstáculos, resulta por demais evidente a inexistência de um PROJETO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO.

Isso, quando e se implementado, significa um guia confiável no caminho a trilhar para atingir objetivos superiores e, ao mesmo tempo, entre outras virtudes, configura uma referência importante para os principais atores do cenário econômico e social.

E que, na verdade, fica a lamentável impressão de que as ações governamentais – fundamentais pela sua importância e seu papel de guia para o trabalho de agentes privados – são ditadas pela incerteza dos acontecimentos do momento, sempre acobertados por duvidosos interesses políticos e pela pressão de grupos bastante poderosos para ditar, de acordo com seus interesses, o rumo dos eventos que sinalizam o rumo do país.

Vale lembrar que já tivemos essa experiência positiva em 1970, com o Plano Decenal de Desenvolvimento Econômico, que indicava objetivos e rumos do país até 1980. Infelizmente, no vendaval de paixões e interesses em colisão, não foi nunca mais repetido. E isso na era da informática!

Lembrete: A China, como outros países, tem seu Plano Decenal de Desenvolvimento, atualizado anualmente e projetado continuamente para os próximos dez anos. É a bíblia sagrada obedecida pelos gestores da governança pública assim como pelos dirigentes empresariais que usam o planejamento como instrumento indispensável para aprimorar a gestão de negócios.

Que bom seria se podemos concordar que esse PROJETO NACIONAL seja um PLANO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, que deve ser entendido como aquele que considera que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB),
somente significa progresso efetivo na medida em que completa os elos da corrente do virtuosismo econômico – distribuição equitativa, forte alcance social, continuidade e coerência – com políticas permanentes para colocar todos os indivíduos, sem distinções, em igualdade para competir e desfrutar de uma boa qualidade de vida.

E que, ao mesmo tempo em que estabelece como norma constante um profundo respeito pelo meio ambiente, mantêm políticas claras para o crescimento dos setores chaves da economia, sempre de olho para manter o egoísmo natural das forças orientadas pelos mercados no justo calibre dos interesses maiores do País, humanizando e transformando positivamente as relações entre o capital, a tecnologia, o governo e o trabalho.

Outrossim, que não deixe dúvidas sobre a intenção de estabelecer como permanente o protagonismo por parte da sociedade organizada, reduzindo e transformando, paralelamente, o papel do estado sempre apoiado num governo regido por princípios de austeridade, eficiência, transparência e produtividade, essenciais para manter a inflação, as contas públicas e o endividamento, interno e externo, sob controle.

Igualmente, que dá a mesma importância à transferência de conhecimentos mediante o sistema de educação como à introdução de formas inovadoras para completar permanentemente o desenvolvimento de cada indivíduo como ser humano-social, preparando-o melhor para os desafios de ambientes em constante mutação que parecem inevitáveis nos tempos que virão.

Enfim, fica o consolo de que sonhar não custa nada. Ainda!
De meu caderninho preto:
Fica uma grande saudade do passado, lembrando as cifras auspiciosas quando após o fim da II Guerra Mundial fomos um dos países que mais cresceram no mundo, emplacando uma média de 7,6% ao ano.
Depois, no tempo que o Japão assombrava o mundo com seu crescimento espetacular, o Brasil noutro ciclo nunca repetido, entre 1979 e 1973, mantivemos um patamar de 11,9%, com fabulosos 14,0% em 1973!

Por Miguel Sainún Nozar, economista, escritor e mentor, com uma visão especial sobre o papel do empresário na construção do futuro.